Veveu Arruda explica o que novos prefeitos devem fazer pela Educação

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Ao longo das últimas semanas o ES em Ação vem apresentando o cenário da Educação no Espírito Santo e os desafios a serem enfrentados para transformar o ensino municipal. O professor Veveu Arruda, diretor presidente da Associação Bem Comum e ex-prefeito de Sobral-CE, município nordestino com uma das maiores notas do Ideb do país, explica em vídeo e nesta entrevista, qual é o dever de casa dos futuros prefeitos. Ele ainda diz o que fazer para melhorar a aprendizagem das crianças.  

 Quais recomendações o senhor daria para os futuros prefeitos começarem a transformar a Educação em cada município?

Veveu Arruda – A principal tarefa do prefeito é assegurar uma política educacional de qualidade para todas as crianças, em todas as salas de aula de todas as escolas do município. Essa tarefa deve estar nas principais prioridades do prefeito no seu dia a dia. Ele precisa conhecer a realidade educacional do seu município. Para isso é necessária a avaliação de aprendizagem, que deve ser feita logo no começo do ano para diagnosticar cada série e, como consequência, produzir os insumos necessários para assegurar a melhoria da aprendizagem em cada uma das séries.

Esta avaliação indica as deficiências que vão desde a presença diária de todas as crianças em todas as salas de aula. Nenhuma criança pode faltar sem que a direção da escola busque as razões pelas quais aquela criança faltou. Amanhece o dia o diretor da escola verifica quem faltou e fez um contato imediato com as famílias. A avaliação vai passar também pelos pontos em que os professores precisam ser mais melhor qualificados.

 A política de formação de professores é muito importante. Na mesma medida, uma política de formação para os gestores destinada aos diretores das escolas. Os diretores são líderes. Eles vão liderar um time de professores e funcionários, que inclui, inclusive, a participação dos pais na família. Então, eles têm que ter as habilidades necessárias para gerir uma boa escola olhando também para os aspectos administrativos, mas sobretudo para os aspectos pedagógicos, para criação de um clima favorável ao ensino e aprendizagem na sala de aula, incluindo os pais.

Metas

Nós recomendamos muito o estabelecimento e o cumprimento das metas. Elas identificam os níveis adequados de aprendizagem. É preciso estabelecer qual é a meta que você vai alcançar naquele ano. Em relação à aprendizagem, essas metas são também orientadoras do procedimento de funcionamento da escola e o cumprimento delas devem ser já um reconhecimento por parte do município do esforço de todos os envolvidos. O diretor, professor, coordenador pedagógico. Este reconhecimento pode ser um prêmio em dinheiro. Para isso é preciso preparar- se para essa despesa.  Também pode ser reconhecido com solenidade como a entrega de um troféu, um diploma. Essas ações só são viabilizadas com êxito se o prefeito ou a prefeitura liderar esse processo.

 Por mais eficiente que você tenha um secretário ou uma secretária, tem questões que são da governança do prefeito. O prefeito, por exemplo, determina o fluxo de recursos para cumprir essa agenda de estratégias, garante que um diretor da escola está sendo nomeado porque tem competência e habilidade para ser diretor da escola –  e não porque está sendo atendido um pedido político partidário para indicar alguém que muitas vezes não tem habilidade suficiente para ser um bom diretor.

Tudo isso é tarefa do prefeito. Não só o estabelecimento dessas estratégias que compõem a política educacional, mas o acompanhamento delas do mesmo jeito que tem o monitoramento por parte da Secretaria. Entendo que o papel de liderança do prefeito é no processo educacional. Ele é dono de uma rede escolar que vai ter melhores resultados ou não.

2) O que foi mais difícil e o que foi mais fácil mudar em Sobral?

Veveu Arruda – No começo, nos primeiros os quatro anos. Tudo o que estava à disposição no Brasil para melhorar o sistema educacional foi feito. Reformas de escolas, construção de novas escolas, concurso para professor, aquisição de computadores, livros, bibliotecas, merenda escolar, fardamento, transporte escolar. Tudo. Mas ao final dos quatro anos, quando se fez uma avaliação externa para saber se os meninos as meninas de Sobral tinham efetivamente aprendido, nós percebemos o grande desastre: 50% dos meninos avaliados não sabiam ler nem escrever.

Ou seja, nós estávamos na periferia do sistema. Foi aí que percebemos, a partir dessa avaliação da aprendizagem de cada um dos meninos da 2ª série quando se verifica a alfabetização, que deveríamos desenvolver as nossas atividades com foco na criança, na sala de aula, portanto, na gestão da aprendizagem.

Eu diria que o essencial entre fácil e difícil foi identificar isso. No momento em que estabelecemos como regra a gestão da aprendizagem das crianças, olhando para o que estava acontecendo dentro da sala de aula, foi o que mudou tudo.

Então, para garantir uma boa gestão da aprendizagem, você tem que ter formação de professores. Quando eles saem das universidades, não saem preparados para dar aula porque as nossas universidades têm uma falha importante no sistema de ensino superior. Ele não treina o aluno que fez Pedagogia para ser professor.

É preciso qualificar o professor para que ele possa fazer com que 50 minutos em sala de aula sejam minutos pedagógicos. O menino aprender o que precisa ser aprendido de conteúdo. Então, eu diria que o fundamental foi fazer esse movimento sair da periferia e ir para o centro de nossa atividade que é a sala de aula.